sexta-feira, 4 de abril de 2008

Ex Pessoas

Sempre que um relacionamento chega ao fim, as pessoas envolvidas repetem a torto e a direito que desejam continuar sendo amigas; que não querem perder contato, que desejam sinceramente continuar fazendo parte um da vida do outro, encaixados em uma nova categoria: a da amizade. Venho me questionando sobre as verdadeiras possibilidades de uma amizade verdadeira surgir de um término de namoro. E admito ainda não ter chegado a uma conclusão sobre quão possível é isso.

O que ocorre é que quando um relacionamento termina, geralmente uma das duas partes sai contrariada. Esse papo de “terminamos em comum acordo” é apenas e tão somente isso: papo. Claro, algumas vezes ambos estão descontentes e acabam concordando que o melhor que se tem a fazer é encerrar o relacionamento. Mas na grande maioria das vezes, o namoro acaba em sociedade; um entra com o pé e o outro com o traseiro. E cada uma das duas situações possui suas peculiaridades; quem rejeita e quem é rejeitado. Examinemos ambas as situações.

Quando você é quem toma a iniciativa de romper um relacionamento, é muito comum que precise de uma distância da ex-pessoa. Isso porque, além de ser o responsável pelo término, o que supõe que esteja em suas mãos a manutenção da condição de rompimento, fica difícil conviver com o ex de forma intensa no início. Uma série de projeções que haviam sido feitas tem de ser reintrojetadas, como se você houvesse apostado muitas fichas em um jogo de roleta e tivesse perdido; você precisa se reabastecer de suas próprias fichas, de suas energias, até sentir-se completo novamente. E fazer isso mantendo um contato freqüente com o ex fica difícil.

Além disso, assim que se rompe um namoro, fica-se naquele clima de recém-solteiro: você só consegue pensar que está livre, que não namora mais, e é bem capaz de deslumbrar-se com esta nova qualidade. Geralmente seus assuntos irão referir-se às novas experiências que está tendo, sobre a forma como vem se sentindo, sobre os programas que vem fazendo. E muito provavelmente seu ex, sentido pelo término indesejado, não estará muito interessado em saber como estão sendo suas novas experiências.
Se estiver totalmente convicto de que não é mais essa a relação que você deseja, que não corre nenhum risco de ter uma recaída, o medo de magoar o ex também pode ser um dos fatores que podem gerar ou manter a distância inicial. Você pode não querer passar pela situação de ter de reafirmar várias vezes que não quer voltar, que deseja continuar sozinho e que está mais feliz assim.

E se você é quem é terminado, a situação piora. Você pode até morrer de vontade de encontrar a outra pessoa, de saber como ela está, de avaliar quais são suas chances de reconquistar o ex. Mas se a outra pessoa estiver certa sobre a decisão tomada, esta proximidade passa a ser masoquismo. Você deseja ardentemente encontrar o ex, mas quando o encontra, não recebe aquilo que faria com que você se sentisse satisfeito. Você anseia por um telefonema, mas quando este se dá, a frieza ou distância impressa na voz do outro aniquila suas expectativas de retorno do namoro. Você precisa saber o que o outro anda fazendo, mas se fica sabendo que ele está muito bem, obrigada, sem você, sente-se a última pessoa do universo e tem vontade de pular pela janela.

A amizade entre duas pessoas não pode ser algo forçado; você não pode e nem deve exigir que uma pessoa queira ser seu amigo. Muitas vezes este desejo de “ser amigo” pode até representar uma tentativa camuflada de negar o término e a separação, de não se distanciar totalmente. Se foi você quem terminou, talvez ainda esteja inseguro, com medo de se arrepender; a amizade surge como uma forma de manter a pessoa por perto, de não se distanciar demais ao ponto de não conseguir voltar atrás se desejar. E se você foi terminado, talvez esteja tentando se convencer de que qualquer contato com a pessoa que o rejeitou seja melhor do que ficar definitivamente sem ela. Mas muito cuidado para não se conformar em receber menos do que deseja. Se você continua apaixonado, é bem difícil que se sinta satisfeito em ter apenas a amizade da outra pessoa.

Amigos não sentem ciúmes de amigos; ficam felizes se eles estão felizes, independentemente de que esta felicidade seja decorrente de um romance que acaba de começar. Amigos não são possessivos em relação aos outros. Amigos não cobram um telefonema todos os dias, e nem cobram sair juntos todos os finais de semana. Amigos não sentem desejo por outros amigos – ou pelo menos não deveriam.

Cuidado para não cair no conto de “vamos continuar amigos”. Vocês não eram amigos, e sim namorados. Não têm como continuar sendo algo que nunca foram. O distanciamento é necessário para a desvinculação. E apenas desvinculado é que se consegue realmente avaliar se a decisão foi a correta ou não. A amizade vem apenas em um segundo momento, quando cada um dos ex passa a ser novamente uma pessoa inteira, quando todas as mágoas tiverem sido superadas, quando todas as expectativas tiverem sido reintrojetadas, quando todo o sentimento houver terminado.

Tudo neste mundo tem seu tempo. Até a amizade.
Dezembro de 2004

Fuja do Telefone

(ou, O Indecifrável Porquê Dos Homens Dizerem Que Vão Ligar E Nós Acreditamos)
Toda vez é sempre a mesma coisa. Você conhece um carinha legal, bonitinho, com um papo bacana... Às vezes o recém conhecido te beija às vezes não. Mas invariavelmente, se ele te achou legal, bonitinha e com um papo bacana, faz a promessa: amanhã te ligo. E invariavelmente você acredita.

Creia, irmã, você não é a única a acreditar nesta balela. Claro, não é regra você ficar o dia inteiro esperando a maldita invenção de Grahan Bell tocar, sentindo frios na espinha quando toca, e querendo se jogar da janela do seu prédio – ou do viaduto do chá, se você não mora em apartamento – quando vê que não era ele. Mas é inacreditável o número de vezes em que ligo para minhas amigas, elas atendem com uma vozinha doce do outro lado da linha e mudam o tom de voz ao ver que era só eu.

Porque falam que vão ligar se não ligam? Porque não falam apenas um “agente se fala”, “te ligo dia desses”, “vou te ligar”? Porque acrescentar o adjunto adverbial temporal “amanhã”? Afinal, esperar o cara te ligar um dia é bem diferente do que esperar o cara te ligar tal dia. Se ele ficou de te ligar provavelmente você nem vai acreditar, vai reclamar que ele foi vago e que o encontro foi de uma noite e nada mais. E no dia em que ele ligar – se ligar, é claro – você vai ficar toda contente por ele ter se lembrado de você e ter perdido momentos preciosos da vida te telefonando. Vai até dizer, contente, para as amigas, “meu, você não sabe quem me ligou”, com aquele ar de quem recebeu uma dádiva divina.

Mas se ele fala em amanhã, está te localizando no tempo e no espaço, garantindo alguma coisa, dando uma continuidade para uma noite que certamente não vai cair no esquecimento. E você vai dormir com aquela sensação de ter vivenciado um momento de encontro. E você vai acordar sentindo um frio no estômago, uma ansiedade que você não consegue explicar o porque até se lembrar da promessa feita no dia anterior. Vai passar o dia contente, esperando chegar o finalzinho de tarde, hora em que os telefonemas se dão. Vai verificar o celular o tempo todo, procurando alguma ligação perdida. Mas quando a novela das oito acaba, você vê que já está ficando tarde e ele não ligou... Aí começa o tormento. “Desgraçado, filho da mãe, cretino!”, é tudo o que você consegue pensar. E então se inicia uma série de telefonemas desesperados para suas amigas, nos quais você se pergunta o porque de tanta safadeza, começa a se questionar o que pode ter feito de errado para o crápula acordar no dia seguinte, coçar a cabeça e chegar à conclusão: “não... acho que não vou ligar”, e se esquecer de você por completo.

Conversando com uma amiga sobre isso outro dia e ela me deu a solução: é justamente isso que o canalha quer. Te deixar apreensiva e pensando nele o dia seguinte inteiro. Ser lembrado a cada toque do seu telefone, ser comentado por você com as suas amigas. Para quê falar que te liga qualquer dia, e deixar você tranqüila, se ele pode dar uma de gostoso e fazer seu pensamento se fixar nele no dia seguinte inteiro? Ele quer é te prender a ele, te fazer esperar, esperar, esperar...

Uni-vos mulheres que esperam um telefonema! Saiam dessa e invertam o jogo:

* Se ele disser que liga no dia seguinte, diga que amanhã você estará muito ocupada e, caso você não atenda o telefone, que ele não pense que você não quer atender, e sim que está mais atarefada fazendo outra coisa. Isso vai fazer ele te ligar, afinal, quem não quer saber se é mais importante do que os compromissos do dia a dia?

* Se ele te ligar, não atenda. Ele vai se sentir preterido, e um homem preterido é tudo o que uma mulher precisa!! Todo mundo merece se sentir a última bolacha do pacote, e ainda por cima recheada e de chocolate!!


* Se achar que não vai agüentar ouvir o telefone tocando e não atender, jogue o mesmo jogo dele. Fale que seu celular está com problema, e que por isso você prefere pegar o telefone dele. E lembre-se: diga que vai ligar no dia seguinte!!! Pois aí, quem vai ficar esperando o telefone tocar será ele, enquanto você, fêmea poderosa, coça a cabeça ao acordar e decide se vai ligar ou não...
Março de 2005

Honestidade


Muito ouve-se falar sobre honestidade. Que a sinceridade é a melhor virtude, que nada pode ser melhor do que estar em um relacionamento aberto e com espaço para o diálogo, e bla-bla-bla. Obviamente ninguém quer se sentir enganado, feito de bobo ou coisa do gênero. Mas será mesmo que a honestidade é sempre a melhor escolha? Será que em um relacionamento, que envolve tanto de tática e política, as pessoas sempre devem saber da verdade, custe o que custar? Ou em alguns momentos, quando sentimentos, valores e emoções tão delicadas estão em jogo, o melhor a se fazer não é apenas ser honesto consigo mesmo?

Eu sempre fui destas sonhadoras que acreditam que a sinceridade é a melhor pedida. Sempre achei que, houvesse o que houvesse, deveríamos saber da verdade. No meu último relacionamento, eu e meu ex fizemos um pacto de sinceridade: diríamos sempre a verdade, por pior que ela pudesse ser. Eu teria que passar o próximo mês fora, a trabalho, e combinamos que, caso algo de “inusitado” ocorresse, contaríamos tudo, tim tim por tim tim. Mas nem tudo ocorre como o planejado, e depois de algumas decepções diante de certas atitudes do meu namorado e de alguns emails confusos trocados, traí meu namorado com um colega de trabalho.

A coisa não passou de uns beijinhos de boa noite, mas no dia seguinte, quando acordei, percebi que não me sentia bem com o que tinha acontecido. Não por ter traído a confiança do moço, mas por ter traído a mim mesma e ao sentimento intenso que eu tinha. Apesar de decepcionada, ainda acreditava que as coisas pudessem dar certo. E depois de uma conversa franca e honesta com meu amigo, as coisas foram colocadas em pratos limpos e nosso laço de amizade intensificou-se ainda mais.

Mas quando voltei da viagem e reencontrei meu namorado, percebi que as coisas não estavam iguais. No início pensei que eu estivesse “over-reacting”, motivada pela consciencia de que eu não havia feito por valer nosso pacto de sinceridade. Mas depois de três finais de semana seguidos separados, impossibilitados de nos vermos em função da agenda repentinamente lotada do namorado – que passou a trabalhar aos sábados e jogar futebol aos domingos – percebi que a vaca tinha ido para o brejo. Depois de uma conversa doída, ele admitiu que não estava tão envolvido no relacionamento quanto eu e decidimos por terminar o namoro. E qual não foi o meu espanto quando, dois dias depois, ele veio de surpresa à minha casa e admitiu que havia me traído também, por duas vezes, enquanto eu viajava a trabalho. Duas vezes, e com a mesma mulher.

Há uma coisa curiosa em relação à honestidade, é esta coisa é o que motiva a honestidade. Uma questão filosófica: uma árvore de uma tonelada que cai em meio á uma floresta sem que haja alguém por perto que ouça o barulho. Fez barulho ao cair? No meu caso, a resposta era não. Mas no caso do namorado, o barulho parecia ter sido tão grande que, depois de um mês que eu voltara de viagem, ainda ressoava em seus ouvidos. E o que me deixou profundamente pensativa foi o comentário que ele fez depois que me contou a verdade: que sentia-se tão culpado por ter feito o que fez que não conseguia me tratar da mesma forma. Quando é que a honestidade para com o outro ultrapassa o limite da sinceridade altruísta, caindo no lugar comum da confissão? Qual é o verdadeiro valor da honestidade motivada pelo sentimento de culpa?

A culpa é um sentimento horrível, pois está intimamente associado ao conceito de punição. Quando somos crianças e fazemos algo de errado, nossos pais fazem com que “paguemos” pelo nosso erro, tirando-nos privilégios ou dando-nos belos tapas na bunda. Com o tempo, aprendemos que determinada coisa é errada pois virá acompanhada da punição, e a partir deste momento, quando cometemos conscientemente um erro, sentimo-nos culpados. Desta forma, a culpa nada mais é do que o sentimento que nos assola entre o erro cometido e a punição merecida. Mas a filosofia ocidental-cristã prega que, caso confessemos nossos erros, seremos absolvidos pelo mesmo, como um prêmio recebido pela coragem de admitirmos nossas falhas. E aparentemente, foi isso o que o namorado pretendia, ao admitir sua traição.

Naquele momento ele foi o menino pecador assustado e eu, seu padre confessionário, que o faria sentir-se péssimo pela sua falta de consideração e que, no momento seguinte, o perdoaria. Algo como, “ajoelhe-se no milho e reze vinte aves-maria e doze pais-nosso”. Mas eu o surpreendi, dizendo que eu também havia sido infiel a ele. Mas que, em momento algum, havia traído a mim mesma. Contei o que tinha acontecido entre mim e meu colega de trabalho, e a reação do moço foi a de indignação. Ele não conseguia entender como eu havia feito o que havia feito sem me sentir culpada. Teria sido engraçada, se não fosse trágica, a expressão do moço diante da minha honestidade. Raiva, rancor, indignação e inconformismo eram os sentimentos que o dominavam quando ele me disse que preferiria não saber da verdade. E quando eu perguntei o porque de ele pensar assim cinco minutos depois de ter sido honesto, ele me respondeu que me disse pois se sentia culpado, e que se eu não me sentia assim não deveria ter contado nada. Bingo, ganhei um frango.

A pior desonestidade que pode existir é a desonestidade consigo mesmo. Uma parábola budista conta que um mestre e seu discípulo peregrinavam quando encontraram uma mulher na beira de um rio. Quando se aproximaram, a mulher lhes disse que precisava atravessar o rio para comprar mantimentos, mas que não sabia nadar. O mestre prontamente ajoelhou-se no chão, oferecendo os ombros para que a mulher se sentasse neles e ele a carregasse até a outra margem, e assim ela o fez. Cruzaram o rio, a mulher agradeceu e foi-se embora. Mas o discípulo não conseguia compreender a atitude do mestre; como é que ele, um sábio que vivia em celibato, havia oferecido os ombros para que neles a mulher se empoleirasse? Depois de meses atormentado pela questão, ele interpelou o mestre, e depois de expor o motivo de seu anseio ele lhe respondeu: “Pois é esta a diferença entre o mestre e o discípulo: enquanto um carrega a mulher nas costas de uma margem a outra do rio, o outro a carrega nas costas por meses a fio”.

E esta foi a diferença entre meu ex-namorado e eu: o grau de maturidade envolvido na intenção de ser honesto. Enquanto eu carreguei meu deslize nas costas de uma margem do rio e outra, ele carregou o seu por meses a fio, e apenas o abandonou no momento em que confessou-me seus pecados, esperando pela minha absolvição. Mas ela nunca veio. O namorado virou ex, o amigo continuou sendo amigo e eu demorei certo tempo para recuperar a minha auto-estima. Mas no final de tudo, convenci-me de que o maior triunfo de uma pessoa é a honestidade para consigo mesma, antes de ser para com o outro. O que, antes de qualquer outra coisa, é a prova mais concreta da maturidade pessoal de um individuo que se aceita e se respeita.
Novembro de 2005

O que é mais difícil... é mesmo mais gostoso?

Uma de minhas melhores amigas é uma mulher belíssima e extremamente inteligente. Redatora de uma agência de publicidade, é dona de um dos sensos de humor mais perspicazes com os quais já me deparei. Divertida, sexy e com ótimo gosto para se vestir, dificilmente passa despercebida em uma ocasião social. Articulada, consegue relacionar-se com todos os tipos de pessoas com igual facilidade. Sexualmente independente, resolvida consigo mesma e com o mundo, já dormiu com tantos homens lindos que é de fazer inveja a qualquer mortal. Mas apesar de possuir tantas qualidades, ultimamente vem se lamentando da dificuldade em encontrar um homem que, mais do que aquecer sua cama, aqueça seu coração.

Entretanto, há uma característica referente a seu comportamento afetivo e sexual que chama a atenção. Ela costuma se apaixonar por homens que possuem em comum uma única característica: nunca estão disponíveis. Sua mais recente paixão foi por um homem grosso, mal educado, comprometido e que agia como se a tomasse por imbecil e idiota, desprezando sua inteligência. Antes disso, apaixonara-se por um “amigo” que vivia a cortejando, no exato momento em que ele começou a namorar com outra. E para finalizar, encantara-se com outro dias antes de ele se mudar do país. E é desnecessário dizer que antes de pensar em viajar, este também vivia convidando-a para sair. E ela nunca tinha vontade.

A impressão que eu tinha era a de que se tratava de uma dinâmica típica de uma pessoa com um escancarado medo de se envolver. Esta idéia foi reforçada quando ela me contou que havia saído com mais um homem que havia levado-a para jantar em um restaurante japonês caríssimo – e pagado a conta – e que a tratara muito cortesmente, presenteando-lhe com uma blusa muito bonita e nem sequer tentando-a beijar no final do encontro. Mas ela não lhe dera a mínima. Ela interessava-se apenas por homens que não estavam disponíveis e que não apresentavam condições de proporcionar-lhe o que desejava. Como se estivesse em um ponto, esperando um ônibus de determinada linha passar, mas ao invés de entrar em um com ar condicionado, vazio e com poltronas confortáveis nas quais pudesse se sentar, escolhia deliberadamente entrar em um caindo aos pedaços, lotado e no qual mal poderia respirar de tanto calor.

Esta percepção me fez lembrar algumas sessões com minha terapeuta, nas quais havíamos conversado sobre este mesmíssimo assunto: a extrema facilidade em me apaixonar e manter-me interessada por homens que não me davam a mínima e, por outro lado, a mesma facilidade em desinteressar-me e me afastar daqueles que se mostravam genuinamente disponíveis e bem intencionados. Na época esta intervenção pareceu-me absurda e até mesmo ofensiva: eu não era nenhuma masoquista, retardada e viciada em rejeição!!! Mas passado algum tempo, comecei a cogitar veementemente tal possibilidade.
Seria possível que nós, mulheres inteligentes e interessantes fôssemos, por outro lado, estúpidas ao ponto de nos permitirmos envolver sempre com os homens errados? Estaríamos nós, guiadas pela máxima de que o que é mais difícil é também mais gostoso, desperdiçando as possibilidades de encontrarmos homens bons e dispostos a viver, conosco, algo que valesse a pena? E direcionando sempre nossos pensamentos e sentimentos para homens que, nem em um milhão de anos, nos dariam o que queríamos? Em última análise, estaríamos nós reproduzindo o comportamento masculino – do qual sempre nos queixamos – e quando percebemos que o “alvo” de nosso interesse está disponível, imediatamente nos desinteressamos?

Angustiada pela possibilidade de estar sendo, eu mesma, minha própria inimiga, sabotando minhas chances de ser feliz e imitando os movimentos instintuais caninos de correr atrás do próprio rabo, pus-me a pensar em meus últimos relacionamentos amorosos. Tentando identificar em mim mesma um padrão de envolvimento, cheguei a conclusões estarrecedoras. Quando eu percebia que um homem pelo qual eu estava interessada não me correspondia, ao invés de partir para outra ou simplesmente olhar ao redor verificando se não havia por perto algo melhor, eu fazia do cidadão um verdadeiro desafio. Um que nunca namorou ninguém? Ah, comigo ele namoraria. Um que nunca foi fiel? Ah, comigo ele seria. Um que pensava em se mudar de cidade? Ah, por mim ele mudaria de idéia.

Ao invés de me afastar dos tipos que, previsivelmente, me fariam sofrer, eu intencionalmente permitia-me me aproximar. Transformava a “dificuldade” ou o “defeito” da pessoa em um desafio pessoal. Como se ela apenas fosse do jeito que era porque não havia me conhecido antes. Eu, o umbigo do Universo, a mulher mais interessante do planeta Terra, certamente conseguiria o que nenhuma mulher havia conseguido antes: consertar um homem errado. E, se acaso conseguisse, o mérito seria totalmente meu. Assim, eu confirmaria a mim mesma o quão especial, maravilhosa e superior eu era. E as outras pessoas me olhariam e comentariam entre si, “nossa, ela conseguiu... e se conseguiu, é porque realmente é muito especial!!”. E eu me convenceria de que realmente possuía tais características. Pura insegurança de minha parte.

Mas o pulo do gato nessa história toda era que a idéia contrária também era verdadeira: uma vez que, se eu conseguisse o que queria, o mérito seria meu... se não conseguisse é porque a falha também haveria de ter sido minha. Na verdade, a minha grande falha era a de não levar a outra pessoa em consideração. Não pensava na possibilidade de que talvez o cara fosse mesmo um problemático que nem eu e Freud, juntos, poderíamos dar conta. Que talvez ele tivesse acabado de sair de uma aventura amorosa e estivesse traumatizado. Que ele talvez fosse viado e ainda não houvesse se descoberto. Enfim, que talvez a razão pela qual meus planos teriam ido por água a baixo não dissesse respeito exclusivamente à minha pessoa. Por mais especial, inteligente e interessante que fosse.

Complementarmente, permitir que uma pessoa interessada em mim se aproximasse significava me mostrar como verdadeiramente eu era. Não teria que “fazer tipo”, que planejar frases, que escolher as melhores palavras de modo a agradar e a conquistar quem quer que fosse, pois a pessoa já estaria interessada. Já havia percebido minhas qualidades sem que eu precisasse ficar “esfregando-as” na cara de ninguém. Muito pelo contrário, me permitir envolver significaria permitir que a pessoa conhecesse, também, meus defeitos e minhas piores facetas. Buscando sempre as pessoas erradas eu estaria, na tentativa de me envolver, me impedindo de me envolver. E também de me relacionar, o que significava levar o outro em consideração... afinal, uma relação é feita de, no mínimo, duas pessoas.

É incrível a capacidade que temos de nos sabotar. Afinal de contas, só consegue enganar alguém quem conhece profundamente quem vai ser enganado. E neste caso, ninguém nos conhece mais do que nós mesmos. O que nos impede de aceitar conhecer uma pessoa que se mostra disponível é, em última análise, o medo da rejeição. Enquanto tentamos conquistar alguém, buscamos decifrar o que agradaria a pessoa, ocultamos tudo aquilo que não seria adequado, pegamos todas as nossas qualidades, as lustramos e colocamos todas elas em uma vitrine, bem expostas aos olhos do objeto de nosso interesse. Não há relação, apenas o jogo da conquista. O que não acontece quando nos deixamos envolver com uma pessoa que já se interessa por nós. Neste caso há uma relação, há a convivência, há a troca. E os defeitos e coisinhas irritantes também têm o seu espaço.

Na verdade quando conseguimos ocultar nossos defeitos dos outros, é quase como se conseguíssemos ocultá-los de nós mesmos...
Março de 2005

Objetivos

Outro dia estava conversando com um amigo na academia; ele me contava de uma garota com a qual estava saindo. Pareciam estar se dando bem, se falando todos os dias pelo telefone, se vendo uma, às vezes duas vezes por semana. Tudo corria às mil maravilhas até que a garota viajou para os jogos universitários da sua faculdade; passaria dez dias no interior, mas prometeu que ligaria para ele durante este tempo. Obviamente, não ligou. Ela nem havia voltado da viagem ainda e ele já tinha saído com mais três meninas da academia, falava que tinha resolvido – da noite para o dia – aproveitar sua vida de solteiro. Disse que naquele mesmo dia iria sair com uma quarta, que eu sabia, mas ele não, era amiga da sumida. Quando eu perguntei o objetivo daquilo tudo, ele me responde: “se quem eu quero não me quer, vou sair querendo todo mundo!”, para logo depois acrescentar, como quem não quer nada, que podíamos combinar de fazer alguma coisa durante a semana. Eu, hein?

Lembrei instantaneamente de outra amiga minha, cujo pai fala pouco, mas quando fala, é muito sábio. Ela contava ao pai que tinha saído com um carinha na terça, outro na quarta e que estava se arrumando para sair com um terceiro na sexta. E ele, perspicazmente, comentou: “E eu fico aqui me perguntando o objetivo disso tudo...”. Parei para pensar na enorme quantidade de vezes em que eu mesma faço coisas cujas conseqüências poderiam ser desastrosas – e algumas vezes de fato o são – sem me questionar o verdadeiro objetivo das minhas atitudes.

Penso que a grande maioria das pessoas é assim. Não se questionam, não param sequer por um momento para pensar a real motivação de se comportarem de X ou Y maneira. Tenho até mesmo uma paciente que sempre, ao final do relato sobre alguma coisa que lhe aconteceu, acrescenta, com um sorriso tímido: “Se eu tivesse parado e respirado por dez segundos, não teria feito nada disso!”. E eu fico sempre me perguntando... e porque não parou para respirar? Porque essa necessidade de atuação, de agir, de fazer, de acontecer? Qual é esse medo que existe em dar uma pausa, observar as reais motivações que levam a cometer esta ou aquela atitude? Entrar em contato com o que de verdade se sente?

É inacreditável o número de pessoas que conheço que não entra em contato com seus sentimentos. Se escondem daquilo que sentem como se seus próprios sentimentos lhe fossem inimigos terríveis. Outro dia conversava com uma amiga, que me dizia, chorosa: “Prefiro passar por cima dos meus sentimentos do que por cima de mim mesma!”. E qual é a diferença? Essa minha amiga vinha encarando seus sentimentos como algo externo a ela própria, como algo que deveria ser combatido, renegado, expulso, exorcizado de dentro de si. Outra amiga me dizia, dia desses, que sabia que não deveria estar sentindo X sentimento, e que por isso acabava se punindo. E quem, em nome de Jesus, é capaz de dizer o que se deve ou não sentir?

Sentimentos não são certos, errados, aconselhados ou contra-indicados, bons ou maus. São simplesmente sentimentos. Certo, errado, bom ou ruim é o que fazemos a partir destes sentimentos. Você não pode ser responsabilizado por amar ou odiar alguém, mas sim pela atitude que toma a partir deste sentimento. Quantas e quantas vezes não estamos com raiva, inveja, rancor ou mágoa de uma pessoa e não nos permitimos admitir estes sentimentos, como se a máxima cristã de sempre amar ao próximo fosse algo possível de ser exercitado vinte e quatro horas por dia? Fingimos que não estamos sentindo nada, mas na primeira oportunidade, despejamos toda a mágoa acumulada em cima desta mesma pessoa, passamos como um Boeing 747 por cima dela, e depois nos sentimos mal; aquela consciência culpada, de quem fez alguma coisa errada.

A grande maioria das atitudes impensadas é tomada a partir de sentimentos que já estavam ali há muito tempo, esperando por ser reconhecidos, mas que foram negados, subjugados, reprimidos. No caso do meu amigo da academia; qualquer pessoa com QI acima de 20 seria capaz de reconhecer que ele nutria um baita sentimento de rejeição pela garota-viajada, menos ele próprio, que possui um QI muito mais elevado do que isso. E eram justamente estes sentimentos que o estavam fazendo sair com qualquer garota, a torto e a direito, para tapar o buraco deixado pela primeira, que não tinha correspondido às suas expectativas.

A questão parece ser a de que admitir os próprios sentimentos, hoje em dia, é sinal de fraqueza. Admitir que se ama quem não nos ama, de que se deseja o que não se recebe, de que se sonha sonhos que não se realizam... tudo isso parece exprimir uma fragilidade extrema, uma fraqueza imensurável... Quando na verdade, toda moeda possui dois lados, e nos dias de hoje, assumir o que se sente me parece muito mais um sinal de força e de respeito por si próprio do que de fraqueza.

A partir do instante em que se toma contato com os sentimentos, em que se admite que talvez o que se sente não é o mais agradável ou confortável, mas que está ali, à espera de reconhecimento e respeito, temos o embasamento necessário para estabelecermos a tomada de atitudes com reais objetivos. Sejam eles quais forem. Mas que existam, pelo amor de Deus.
Março de 2005

Regredindo

Hoje cheguei à conclusão de que tenho, no máximo, uns 5 anos de idade mental. Não muito mais do que isso. Não sei como é que uma pessoa de 26 anos pode ter um déficit tão grande entre idade cronológica e idade mental. Mas eu tenho.

Talvez seja por isso que me dou tão bem com crianças. Talvez elas tenham algum tipo de sexto sentido que capta as pessoas com a mesma mentalidade que elas. O fato é que todos os filhos de amigos meus me adoram, e sempre que chego em alguma festinha infantil sou o alívio para muitos papais e mamães, que só vão se preocupar novamente com os rebentos na hora de ir embora, ou quando um deles cai e quebra o braço.

Tenho uma capacidade incrível de me comportar como uma criança – até mesmo como uma de colo! – em algumas situações. Quando pinta uma fofoca sobre o carinha que estou de rolo e uma amiga dele, chego a bater no “menos um”. E depois fico me sentindo péssima, envergonhada e recalcada. Não sei se alguém já se sentiu assim como eu, porque o fato é que além de virar criança, viro uma daquelas bem envergonhadas, que não contam pra ninguém o que fizeram de errado. Quando não há provas, não há crime!

Queria saber porque sou assim. Talvez esta seja uma habilidade especial de todas as mulheres que, quando têm seus filhos, têm de regredir um pouco para serem capazes de entender o que a criança está querendo ou dizendo. Mas porque cargas d´água não podemos regredir a um estado infantil apenas nas situações convenientes? Porque temos de agir como crianças quando não precisamos, ou pior, quando isto deveria nos ser proibido?

Às vezes chego a concordar com um amigo meu, que diz que a única psicologia que deveria existir é a comportamental. Aquele tipo de técnica que usam com os animais de circo. O adestrador pede a pata, o animal leva um choque e tem de levantá-la. Depois de um tempo ele não leva mais o choque, mas aprende – de alguma forma estúpida – que todas as vezes que sua pata for pedida ele deverá erguê-la, ou a alternativa é o choque.

Eu não gostaria de viver por aí, tomando choque, todas as vezes que a minha idade mental regredisse uns aninhos. Mas deveria ter um dispositivo de segurança indolor, apenas como um alerta. Quando eu estivesse próxima dos oito ou nove anos, sentiria uma coceira abaixo da terceira costela esquerda (teria de ser algo bem específico, para eu não poder me enganar). Alerta vermelho: primeira infância chegando, primeira infância chegando! Sim, porque até pra ser criança existe um limite. Eu me colocaria no meu lugar novamente, veria com clareza a realidade, e avaliaria muito bem as chances de estar embarcando numa furada.

Sim, porque depois de ter 5 anos, fica muito difícil voltar aos 26! Por mais acelerada que seja a tecla “forward”, preciso de umas boas horas para amadurecer 21 anos. Dá trabalho ser gente grande! Precisei interromper o trabalho que estava fazendo e escrever esse texto, até mesmo ver algumas fotos, pra me convencer de que tenho mesmo 26 anos.

Quero cooooooooolooooooooo!!!!
Janeiro de 2005

Rolo

Se você começa a sair com uma pessoa, descobre várias afinidades entre vocês, têm um papo legal, uma química interessante, começam a se falar sempre pelo telefone, a saber do passado um do outro, a citar os respectivos amigos pelo nome, e não genericamente como “um amigo meu”... inevitavelmente, em algum momento desta epopéia irá se perguntar: “será que estou namorando”? Talvez seus próprios amigos introduzam o tema namoro na história: “Ih, pronto, ela já ta de namorado novo!”, “Pronto, uma a menos no rol das solteiras!”...

É inacreditável a quantidade de conhecidas minhas que se encontram neste impasse. Não sabem definir precisamente o grau de envolvimento que vivenciam, incomodam-se com o fato de não haver nada definido, de não saberem quais são as regras do jogo que estão jogando – se saem, convidam o cara ou não? Se estão com vontade de ligar, mas foram as últimas a fazê-lo, ligam ou esperam o bofe se manifestar? Se têm saudades, falam ou guardam para si este sentimento? Enfim, estão ficando ou namorando?

Alguém mais descolado e moderno pode afirmar veementemente que rótulos não importam. Que o que importa é a relação, como você e o pretendente se tratam, como se sentem um na presença um do outro. Mas, pelo menos no meu entendimento, a diferença toda pode estar no detalhe do nome dado ao relacionamento. Eu explico.
Vamos supor que você esteja ficando com alguém. Vocês se falam ao telefone quando têm vontade, saem quando têm vontade... e quando não têm, não se telefonam, não dão satisfações das respectivas vidas. Você pode ficar chateada se de repente resolveu reservar a noite de sexta-feira para sair com ele e ele simplesmente não ligou. Mas não pode demonstrar isso, porque, afinal, que obrigação ele tinha de telefonar? Vocês não tem nenhum compromisso, são ficantes. E se você resolveu reservar um espaço na sua agenda para ele, o problema é seu, ninguém mandou.

Você também não deve se sentir no direito de se irritar se acaso suspeitar que ele sai com mais pessoas. Afinal, fidelidade não é uma das regras do ficar. Você pode ficar chateada se alguma amiga fizer a denúncia de que encontrou com ele numa balada, e que ele estava acompanhado. Mas nunca poderá ligar para o canalha soltando os cachorros, dizendo que você pode ser loira, mas não burra, e que ele não pode te fazer de otária. Porque ele pode, sim. Afinal, quem disse que ele teria que ficar só com você?


Muitas vezes penso que as coisas eram muito mais simples na época das nossas avós. Naquela época, se você saía com um cara mais de três vezes, se ele te beijava ao te deixar no portão da sua casa... você estava namorando. Porque se um dos envolvidos não estivesse a fim de envolvimento, não saía mais do que uma vez, nem chegavam a se beijar. Naquela época os costumes eram outros, a sexualidade não era um assunto tratado na mídia displicentemente como é hoje em dia. A mulher ainda tinha algo de sagrado, de profundamente respeitado, protegido e resguardado, e as casas de meretrício serviam justamente para que os homens pudessem dar vazão a impulsos que não poderiam encontrar objetos outros que senão mulheres que se prestassem exclusivamente a isso. Mas hoje em dia... A mídia até mesmo valoriza o despreendimento sexual, passando a imagem da “mulher de Nova”, que deve transar sempre que quiser, e que deve procurar um analista se não tiver orgasmos múltiplos a cada transa...

Nesta perspectiva, namorar pra quê? Assumir compromisso quando? Vivemos numa sociedade sem superego, onde tudo é permitido, nada é proibido, contanto que cada um assuma responsavelmente as conseqüências por seus atos. E o resultado disso é cada vez mais e mais pessoas perdidas, que sentem o que não podem sentir, que desejam o que não devem desejar, que fantasiam o que lhes é proibido fantasiar. O romance perde espaço, cedendo lugar à aventura... O que faz com que voltemos então ao nosso par de opostos, ficar – namorar...

Outro dia saí da terapia reanimada – ah, se todas as sessões fossem assim... Minha terapeuta escandalizou meu psiquismo ao afirmar que as coisas não são oito ou oitenta, céu e terra, bem e mal, ficar e namorar. Propôs uma terminologia interessantíssima, que me acalenta em todas as aflições. Propôs o rolo.

O rolo é um momento intermediário de envolvimento, entre o ficar e o namorar, no qual estão presentes algumas características de ambas as categorias. No rolo você pode conversar com o pretendente todas as noites antes de dormir, mesmo que saia para uma balada no momento seguinte em que desligar o telefone. No rolo você tem o direito – graças a Deus! – de dizer que tem saudades. O rolo nos autoriza a ficar P da vida se encontramos o cara com outra, a dar um puxão de orelha se ele ficou de ligar e não ligou. E tudo isso sem espremer a relação dentro de uma categoria comprometedora como o namoro!

No rolo as pessoas se conhecem, vão a fundo nas qualidades e nos defeitos um do outro, para então, tirarem suas conclusões se este é um relacionamento bacana, no qual vale à pena investir. Você pode até ficar com uma pessoa enquanto estiver de rolo com outra, mas provavelmente nem sentirá vontade, já que no rolo já existe uma espécie de envolvimento. No rolo você tem a oportunidade de se permitir decidir o que é melhor ou não para você. Ás vezes você percebe algumas características que, em um namoro, te deixariam de cabelo em pé. Em outras palavras, o rolo também serve para que, algumas vezes, você se livre de uma boa.

Depois de uma certa época, passa a ser um risco assumir um compromisso sério com uma pessoa sem avaliar corretamente as chances do relacionamento dar certo. Afinal de contas, é uma coisa namorar dois, três anos quando se tem dezoito, e perceber que não deu em nada, e outra completamente diferente passar tanto tempo ao lado de uma pessoa quando se tem vinte e cinco anos – se não der certo, começar do zero aos trinta? Com o tempo, você vai – ou pelo menos deveria – acumulando experiências, para não reincidir em erros cometidos anteriormente. E no rolo você vai delimitando este espaço, até contar com uma quantidade de informações suficiente para decidir se é melhor namorar – ou não.

E tudo isso por um preço módico: o de admitir que você está sozinha, que não tem um compromisso com outra pessoa, mas sim um compromisso assumido consigo mesma de descobrir o que te agrada ou não, o que te faz bem ou não, o que é para você ou não. De se permitir conhecer – mais do que o outro, a si mesma. Aproveite a chance: avalie. Veja se a outra pessoa é boa o suficiente para estar ao seu lado, observe-a em situações práticas do dia-a-dia. Dá gorjeta para o manobrista? Fala alto demais dentro do cinema? Olha para a derriére de qualquer sirigaita que cruza o seu caminho?

Fique de rolo agora, para não se enrolar mais tarde.
Março de 2005