sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Os Homens Jogam WAR

Conversando com uma amiga no telefone, e ela me conta que leu em algum lugar que os homens vivenciam a vida amorosa como se fosse um jogo de War. Lembra daquele jogo, que você provavelmente jogou em alguma noite chuvosa na praia, com os amigos? Aquele que tem umas pecinhas redondas e coloridas, você escolhe uma cor e tem o objetivo, de conquistar, por exemplo, a América do Norte, a África e mais um continente à sua escolha?

Pois bem, o objetivo do jogo é ir amontoando as pecinhas em volta dos territórios a serem conquistados, até que o ataque é decidido em um lance de dados. Quanto mais pecinhas o adversário tiver, maior a chance dele conquistar o território. Aí, se este ganha nos dados, o vencido é obrigado a tirar suas pecinhas do território e guardá-las na caixinha, enquanto o vencedor passa as suas para o território conquistado, para, nas jogadas seguintes, usá-las em nova disputa de dados e conquistar mais e mais territórios.
A moral da história era: assim que o cara te conquista, ele põe uma bandeirinha encima da sua cabeça, tipo, essa já é minha, território conquistado; larga a bandeirinha ali e parte para a próxima conquista. O propósito do tema era: devemos nós mulheres, aprender a jogar War também!! E aí eu fiquei pensando... será que somos estrategistas boas o suficiente para sequer entramos na disputa por uma conquista?

Qualquer pessoa mais observadora pode conferir que as mulheres são muito melhores jogadoras de tranca do que os homens. E que eles jogam truco bem melhor do que nós. Se você não conferiu, pode observar bem. E porquê isso acontece? No truco, o blefe é indispensável. E nós mulheres – pelo menos a grande maioria de nós – somos muito mais cautelosas; arrisque a comprar a mesa na tranca em momento errado e o que você terá em troca será descontar centenas de pontos pelos três pretos que perder na mão.

Lembro-me de uma aula de psicanálise na qual o professor estabeleceu uma comparação muito interessante entre a forma de viver o amor e as relações afetivas de homens e mulheres e o ato de urinar dos mesmos na infância. O menininho apostava com os amigos quem fazia xixi mais longe, quem acertava tal alvo a tantos metros de distância. Enquanto isso, a menininha fazia xixi agachada e mesmo assim se molhava. Na vida amorosa, o homem aponta seu piu-piu lá longe enquanto a mulher sente na pele as conseqüências do envolvimento – como o xixi a molhava, as emoções a inundam...

Reclamamos dos homens que usam de toda a sua lábia só para nos levar para a cama e desaparecer no dia seguinte... Mas se não existissem mulheres que se prestam a isso, eles não agiriam desta forma. Precisamos nos questionar se não estamos sendo permissivas em relação aos homens, porque quando um não quer dois não fazem. Parece que depois de toda a luta por direitos iguais, a mulher continua em uma realidade que não é a sua, tentando jogar um jogo cujas regras não são iguais para homens e mulheres, por mais que se queimem sutiãs em praça pública – o que, aparentemente, só serviu para que o peito caísse.

Observe um pêndulo; procure segurá-lo em um extremo. Ao soltar, perceberá que ele imediatamente irá para o extremo oposto. Parece ser isso exatamente o que vem acontecendo. A mulher lutou por direitos iguais, no trabalho, na sociedade, na política e na cama. E agora não consegue administrar as conseqüências disso. Insistimos em fingir que não estamos nem aí se o cara não liga no dia seguinte. Fingimos achar natural que o cara saia com mais duas além de nós. Fingimos estarmos satisfeitas com o prazer que tivemos na noite anterior, se ele por acaso desaparecer. Fingimos estar satisfeitas com as novas regras do jogo, sem perceber que mal sabemos elas quais são.

Não sugiro que as mulheres joguem apenas tranca enquanto os homens jogam truco. Que joguemos War juntos, contanto que cada um – homens e mulheres – saibam utilizar as melhores estratégias. Se a habilidade natural deles é a de conquistar, exercitemos adequadamente a nossa – a de seduzir. E quando falo em sedução, não quero dizer: “mulheres, pintem a unhas de vermelho, o cabelo de loiro e dêem uma piscadinha para todos!”. Falo de assumirmos nosso papel de mulher, de nos orgulharmos de nossa incrível capacidade de amar, de nos envolvermos... Isso é notável nos dias de hoje, em que tudo é tão descartável... Temos, em nosso corpo, a capacidade de gerar e dar à luz a uma nova vida... É assim que a honramos? Sendo permissivas com crápulas aborígenes cujo objetivo é simplesmente colocar-nos uma pecinha redonda sobre a cabeça?

Façamos o seguinte: deixemos que escolham as peças azuis, peguemos as rosas. Escolhamos então os territórios valiosos e reforcemos assim nossas defesas nas fronteiras com os territórios inimigos. Isso dificultará a batalha, dificultará que sejamos vencidas. Pois, me parece, jogar os dados é sempre mais excitante... E além disso, para quem não se lembra... quem está sendo atacado conta com dois fatores a seu favor: a sorte e a vantagem... No empate, ganhemos.
Março de 2005