quarta-feira, 13 de junho de 2007

Pessoas Fortes

Ultimamente venho pensando sobre o que é determinante para que uma pessoa seja forte; não aquele tipo de força que se obtém malhando feito loucos na academia e tomando suplementação vitamínica. Mas aquela força de vem de dentro, que permite que a pessoa atravesse as mais difíceis situações sem se abalar – ou sem se abalar em demasia.
Conheço algumas pessoas que são assim. Pessoas que não tem uma vida perfeita, que não contam com uma ausência total de problemas. Pessoas que vivem às voltas com questões normais: dificuldades financeiras, problemas familiares, descontentamentos com o peso e a forma física, dificuldades profissionais e pessoais. São pessoas com as mais diversas características individuais, com histórias de vida e experiências pessoais diferentes. Mas têm em comum a característica de não esmorecer facilmente diante das dificuldades, não se desesperam com qualquer coisa e, além disso, parecem sempre conseguir encontrar algo de positivo em tudo o que lhes acontece.
Tenho observado a forma-conduta de algumas destas pessoas nas mais variadas situações, e fui capaz de chegar à algumas conclusões. Não posso afirmar com certeza de que possuir ou não tais características seja determinante para que as pessoas sejam ou não felizes, mas o bom senso me diz que a vida pode ser muita mais fácil e prazerosamente vivida a partir do momento em que adotamos posicionamentos diferentes em relação às coisas. Problemas sempre existiram e sempre vão existir; o segredo me parece ser, portanto, a maneira com que lidamos com eles. O referencial pelo qual somos capazes de enxergar as diferentes situações que nos acontecem.
Pessoas fortes são pessoas incrivelmente assertivas. Não adotam uma postura passiva, e nem tampouco agressiva diante dos fatos. Quando algo lhes incomoda, não engolem o sapo, mas são capazes de externalizar o que estão sentindo sem agredir a outras pessoas. São pessoas que se encontram altamente em contato com seus sentimentos, não desprezam suas emoções e não as consideram coisas “erradas” ou “corretas”. Reconhecem seus sentimentos, suas frustrações, suas limitações e as expressam ao mundo sem causar mágoa ou dano à ninguém.
Além disso, pessoas fortes não sofrem, na medida do possível, por antecipação. São serenas o suficiente para esperar que os problemas ocorram antes de estes lhes causarem sofrimento. Avaliam a possibilidade de uma determinada coisa ocorrer, mas apenas se preocupam com esta coisa a partir do momento em que ela de fato se apresenta.
Pessoas fortes têm uma visão otimista diante da vida. “Se algo pode dar certo, porque daria errado?”, parece ser o pensamento mais comum destas pessoas. E quando algo dá errado, assumem o problema mais uma vez de forma positiva; “ok, o pior aconteceu, mas a única coisa para a qual não há solução é a morte” parece ser seu segundo pensamento mais comum. E se, por fim, não forem capazes de resolver a situação como queriam a princípio, “fiz tudo o que pude, e se ainda assim não fui capaz de resolver isso, paciência, tinha de ser assim” parece ser seu pensamento final.
As pessoas que são fortes não exigem demais de si mesmas. Esta parece ser uma conseqüência daquela outra característica, a de estar sempre em contato com suas capacidades, dificuldades e limitações. Sabem o limite exato de sua força e da sua fraqueza, e parecem não se expor à situações em que tenham que ultrapassar estes limites à toa. Sabem para qual tipo de plantio seu solo é fértil. Lembro-me de uma amiga minha que, quando algo estava além de sua capacidade, afirmava, tranqüilamente: “Esta situação não é para mim. Não adianta querer que focinho de porco vire tomada pois não vai virar nunca”.
Pessoas fortes são absolutamente espontâneas; e por conseqüência, criativas. São pessoas que não ficam exigindo de si mesmas que se comportem de X ou Y maneira, se estas não forem suas formas autênticas de se agir. Não ligam muito para a opinião dos outros; se importam na medida certa com o que as pessoas vão pensar delas. E se não gostarem, paciência. Têm a consciência de que não pode-se sempre agradar a gregos e a troianos. Um amigo me diz sempre que, se em um grupo de dez pessoas houver apenas uma que goste verdadeiramente de você, já está ótimo. Pois é muito melhor ser você mesmo sempre e agradar verdadeiramente a apenas uma pessoa do que se esforçar para ser aquilo que não se é para satisfazer a dez.
Além disso, pessoas fortes estabelecem objetivos palpáveis a curto prazo. Preferem colher a cada dia um único fruto, pois parecem ter a consciência de que desta forma saboreia-se muito mais aquilo que foi colhido. Uma cesta cheia de frutos de uma vez parece tirar a capacidade de degustação dessas pessoas, que saboreiam a vitória aos poucos. Não atormentam-se com objetivos impossíveis de serem atingidos; objetivos mais modestos mas que podem ser alcançados impedem com que estas pessoas armem arapucas para si mesmas.
Pessoas fortes têm em comum a característica de manter suas amizades. Possuem poucos, mas bons amigos. Não estão fechadas a conhecer novas pessoas e estabelecer novas amizades; contudo, têm uma perspectiva realista em relação ao que podem esperar de pessoas recém conhecidas. Seus verdadeiros amigos são aqueles que as conhecem e com quem convivem há anos. As pessoas fortes acreditam que pessoas podem aparecer em suas vidas por acaso, mas que não é por mero acaso que permanecem. Valorizam seus amigos verdadeiros como se fosse pedras preciosas, o que de fato são.
Por fim, estas pessoas tem a crença de que algo maior existe e determina o fluxo das coisas. Não acreditam necessariamente em Deus, na figura do velhinho de barba e cabelos brancos assentado sobre uma nuvem branca ou felpuda. Mas crêem em uma energia maior, que seja, que faz com que não estejam aqui por acaso. Que há algum tipo de plano ou destino preparado para elas, o que lhes dá maior força ainda para superar as dificuldades e intempéries da vida...
Um copo de água pela metade pode estar tanto meio cheio quanto meio vazio. O segredo da força das pessoas fortes parece ser a forma com que enxergam a vida e lidam com os problemas. São positivas, otimistas, espontâneas, criativas, serenas e respeitam a si mesmas e seus sentimentos. E por conseqüência respeitam a outras pessoas também.
A força parece sempre obedecer a uma direção, que flui de dentro para fora. Tais pessoas não ficam sentadas, esperando que as coisas aconteçam para agir. Fazem seu próprio momento, que parece lhes dar matéria prima para construir, com as próprias mãos, a sua vida e a sua felicidade.
Abril de 2004

As Mulheres e o Sexo

Outro dia eu e minhas amigas tivemos uma reunião com o editor chefe de uma revista masculina. Conversávamos, obviamente, sobre sexo. Ele nos falava da época em que a sexualidade feminina começou a deixar de ser tabu, e de como idéias como desejo, sexo livre e despreendimento emocional feminino soavam como loucura a ouvidos mais puritanos. Nos chamava a atenção para o fato de que este assunto está absolutamente “em vogue” nos últimos tempos e que, hoje, todas as mulheres defendem esta idéia.
De fato, as mulheres vêm tomando as rédeas de sua sexualidade com destreza cada vez maior nos últimos tempos. Transam quando querem, como querem e com quem querem. Mas a pergunta que não sai da minha cabeça e que fica martelando – como diria o Hercule Poirot de Agatha Christie – nas minhas pequenas células cinzentas é: porque querem? Afinal de contas por que é que, depois de tantos anos da revolução feminina, as mulheres precisam continuar provando ao mundo que podem se comportar como os homens?
Outro dia estava conversando com minha analista, e nosso assunto era justamente comportamentos atuais de homens e mulheres. Chegamos a conclusões interessantíssimas. Na verdade, as mulheres estão totalmente sem limites pois estiveram, por muito tempo, extremamente limitadas. Se antes sua ambição maior era ser a melhor cozinheira dentre as esposas dos colegas do trabalho do marido, agora podem presidir tais empresas. Se antes nem votar elas podiam, hoje em dia podem se candidatar a cargos públicos como os homens, e atentemos para o fato de que a uma mulher ocupou o cargo de prefeita da maior cidade do país. As mulheres ainda estão em um momento de explorar o campo recém conquistado, e é exatamente isto que estão fazendo também no que se refere aos relacionamentos afetivos e sexuais.
Mas a relação de um homem e uma mulher é uma relação de complementariedade, na qual se um avança, o outro tem que recuar. E é isso que os homens estão fazendo. Os homens estão muito mais assustados do que as mulheres – e muito mais perdidos também. Se a mulher ainda não definiu qual é o seu papel, o homem muito menos. E é neste ínterim que os problemas ocorrem. Mulheres que não encontram homens que lidem bem com a nova posição “ativa” das mulheres (afinal de contas, se elas podem trabalhar e comprar suas próprias coisas, porque não podem elas ter a iniciativa de pedi-los em casamento?), homens que não encontram mulheres que tenham a paciência de esperar pelo “timming” deles de se compremeter de verdade (sim, porque além de tudo, somos muito mais apressadinhas no quesito “envolvimento”)...
Onde esse movimento todo vai parar, ninguém sabe. Mas eu tenho minhas suspeitas... Outro dia estava conversando com minha amiga mais “libertina”. Ela não enche a cabeça de besteiras conservadoras quando rola a oportunidade de sexo eventual no meio da tarde, e não fica se sentindo usada se transa com três no mesmo dia. O grande problema dela e a dúvida que a aflige é a seguinte: deveria se sentir mal por ter tal comportamento? Levou esta questão para sua análise, e saiu de lá aliviada. Porque descobriu que, na verdade, o que busca com todas essas desventuras sexuais, é tão somente a mesma coisa que as que não transam tão ativamente buscam: ser amada.
Todas as mulheres são assim. Todas querem, mais que tudo na vida, ser amadas. A forma com que cada uma faz isso é um problema única e exclusivamente pessoal. Acho ótimo que as mulheres testem seus limites. Acho ótimo que tenham experiências que lhes proporcionem o auto-conhecimento. Mas acho também interessantíssimo que, as coisas tendo mudado tanto, a busca feminina continue sendo a mesma: encontrar um homem bom, honesto e respeitável, que possa lhe conceder um lar estável, o sobrenome e um casal de filhos.
Fico pensando se na verdade as coisas não voltarão exatamente ao ponto de onde partiram. Se haverá um dia em que o comportamento atualmente considerado “promíscuo” será tão ultrapassado que voltaremos a valorizar atitudes dé modé como esperar um cara certo para transar, tendo a certeza de que ligará no dia seguinte e que a noite de prazer certamente terá uma continuidade.

O que, pelo menos na minha visão das coisas, faz muito mais sentido.
Março de 2005