sábado, 12 de maio de 2007

Dores e Metamorfoses

Enxaqueca dói. Prender o dedo na porta dói. Usar sapato apertado durante horas dói. Cólica, machucado, ressaca doem. Traição, arrependimento, mágoa, tristeza doem. Eu poderia passar horas e horas enumerando centenas, talvez milhares de coisas que doem tanto quanto cair de skate ou de bicicleta, tanto quanto ser atropelado ou levar um baita rola da escada. Mas existe uma dor que dói mais do que qualquer outra coisa... A de esquecer um amor que não deu certo.

Não importa qual tenha sido o motivo. Talvez você tenha gostado mais da outra pessoa do que ela de você, talvez você tenha sido traído, enganado, passado para trás. Talvez tenha criado, como diz um amigo querido, um castelo de cartas, uma série de expectativas que não foram atendidas pelo outro. Talvez tenha se atropelado, metido os pés pelas mãos, atravessado. Ou talvez tenha simplesmente levado um belo pé na bunda sem nem saber ao certo o motivo.

Nada disso faz diferença, quando se atravessa essa fase terrível de reintrojetar projeções que haviam sido feitas. Uma série de idealizações são colocadas à avaliação, uma série de pontos de vistas são reanalisados, toda a energia que havia sido depositada naquela pessoa e naquela relação tem de ser reaplicada em você mesmo. Pode ser que você venha a se sentir como um pastel sem recheio, ou como uma bexiga esvaziada, jogada no chão no final de uma festa.

Nada dói tanto quanto esquecer um amor. Não importa se vocês estiveram juntos por anos, meses ou semanas. Se você estava apaixonado, se você estava entusiasmado, se você não esperava de forma alguma pelo afastamento provocado pelo término, irá sofrer como uma criança que se vê privada de seu brinquedo mais querido. Claro, pessoas e relações não são como brinquedos, meros objetos que se tira de um lugar e põe em outro. Mas quando se é criança, o brinquedo não é apenas o brinquedo, o objeto em si, mas representa uma série de vivências, reais ou não, de diversão, de fantasia, de pura mágica. De pura magia e encantamento.

Quando se está apaixonado, algumas vezes nenhum dos defeitos que você até conseguia enxergar na outra pessoa servem de motivos bons o suficientes para se conformar com o afastamento. “Afinal, ele trabalhava demais, quase não nos víamos...”, “Ela era muito ciumenta, infernizava a minha vida!”, “Agora vou poder viver tudo o que nunca pude ao lado dele...” são frases que até podem passar pela sua cabeça, mas você sabe muito bem que não passam de meras racionalizações na tentativa de se conformar com uma ruptura que não estava nos seus planos, tentativas de se proteger do contato com o sofrimento decorrente da realidade de que as coisas não aconteceram da forma como você esperava.

Durante um relacionamento, é impossível que você não tenha construído este castelo de cartas. Todo mundo, quando se envolve e se apaixona, imagina, nem que seja apenas por alguns breves momentos, como seria se esta pessoa viajasse com você para aquela praia maravilhosa, local que você facilmente definiria como o paraíso na Terra. Não é tão difícil que você tenha, nem que por relance apenas, imaginado como esta pessoa seria como pai – ou mãe – dos seus filhos. Como seriam as próximas férias em comum; como a pessoa cuidaria de você se você ficasse doente; como seriam doídas as semanas de distância se você ou ela viajassem a trabalho por algum tempo; e como seriam maravilhosos os reencontros.

E quando ocorre o rompimento, todas estas fantasias tem de ser desfeitas, todos os sonhos em comum se desvanecem, e isso causa obviamente uma frustração muito grande. A forma que cada um encontra para lidar com esta frustração é única. Alguns podem sair em uma desenfreada e maníaca busca por uma outra pessoa, que se encaixe adequadamente neste “buraco” recém criado, evitando, desta forma, sentir a falta e o vazio. Outros podem se negar a próximos relacionamentos, seja pela dificuldade em se desligar do anterior, seja por medo de sofrer novamente. Algumas outras pessoas podem fingir que nada estão sentindo, buscando assim, nas altas horas das baladas, empregar toda a energia que lhes sobra entoando fortemente o hino “não sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também”...

Existem, entretanto, aquelas pessoas que aprenderam que nada disso é suficiente para que a dor passe mais rápido. Essas pessoas encaram todo o luto e sofrimento advindos do fim da relação, encasulam-se como a lagarta, passam por um longo e penoso processo de transformação, percebem seus erros, suas expectativas, analisam as próprias atitudes e as próprias frustrações. Como a lagarta, que sofre uma metamorfose real em seu corpo, para se transformar em borboleta, essas pessoas sofrem uma metamorfose simbólica, pois percebem que nunca mais serão as mesmas de antes.

Essas pessoas podem até se tornar amargas, enraivecidas e desesperançosas por algum tempo, mas tudo isso passa depois de perceberem que na verdade sofrem mais por si mesmas do que pela falta do outro. Sofrem porque percebem que não foi desta vez que as coisas deram certo, sofrem por perceberem que tudo aquilo no que acreditaram, pelo que lutaram, o que sonharam... que tudo isso acabou, e que mais uma vez estão sozinhas, com seus defeitos, com suas faltas, com suas limitações.

Mas ao invés das outras, que de uma forma ou de outra evitam sentir o que já de fato sentem, essas pessoas estão infinitamente mais próximas de se tornarem borboletas, que em breve voarão, livres e belas, colorindo a paisagem e alegrando seu Jardim da Vida.
Março de 2005.

Um comentário:

aboutliv disse...

lindo ne
acho que pra mim o pior não é acabar um amor. é um que vc pretende e nem acontece.
eu da lista sou das pessoas que fica se afogando na balada
alias essa semana só nao to pq fiquei doente... mas semana que vem rs
bjs! e prazer :)

ps- amei o coment no meu, que bom que vc curtiu :)
+ bjs