terça-feira, 22 de maio de 2007

Se a Moda Pega...

Gente, estou escandalizada. Outro dia estava conversando com uma amiga no telefone, perguntando como ela estava e o que ela tinha feito e ela me responde, toda alegre: “Sexo a três!”. Depois de ter uma parada cardíaca temporária, consegui prestar atenção ao final da história. Minha amiga transou com dois homens ao mesmo tempo, dois amigos. Amigos entre si, amigos dela, e o que é pior – meus amigos!! Depois de visualizar as cenas que ela me narrava em detalhadíssimas etapas, desliguei o telefone me sentindo esquisita.
No mesmo dia comentei o fato com uma outra amiga, amiga de anos, daquelas que se conhece a vida inteira. Sem me dar tempo de comentar as minhas impressões sobre o fato, ela dá um gritinho, gargalhando em seguida: “Eu também, eu também!!”. Quase bati o carro, mas consegui me controlar para então começar a visualizar outros tórridos detalhes da história que ela me contava. Essa não tinha feito com dois homens, mas com um homem e uma mulher. Amigos. Entre si. Amigos dela. E meus amigos, é claro. O cara era ex namorado da outra mulher, a melhor amiga dela. E ela tinha saído com o cara “pra transar” algumas vezes, meses antes. Teve o cuidado de me tranqüilizar que ela e a menina não tinham transado, sendo cuidadosas para mal se tocarem – como? – durante o ato.
Naquela noite fui dormir me sentindo careta, ultrapassada e, como diria uma outra amiga – será que essa também já fez um menàge? – obsoleta. Gente, eu nunca participei de um bacanal! Todas as minhas amigas estão transando com mais de uma pessoa ao mesmo tempo – ao meeeesmo tempo! – e eu não! Comecei a me questionar se eu tinha algum problema. Alguma disfunção sexual, psíquica ou até mesmo espiritual, porque por mais que eu já tenha pensado nisso, nunca sequer cogitei ir com a idéia adiante. Fantasiar é uma coisa, mas partir para as vias de fato, isso já é outra completamente diferente.
Depois dessas duas, uma terceira me confessou que já transou com dois alguns anos atrás, e, para falar a verdade, estranhei bastante a reação de uma quarta amiga ao me ouvir falar sobre o assunto. Estou chegando à conclusão de que todo mundo já fez isso. E se não fez, ainda vai fazer.

Apesar de modernosa e descolada em vários aspectos, de ter sempre me orgulhado da minha cabeça aberta e da ausência de preconceitos, hei de admitir que não me sinto – ainda – à vontade com a idéia. Talvez tenha sido a minha criação, não sei. Mas por mais que tente, e juro que ultimamente venho tentando, entender o que motiva as pessoas a cruzarem essa linha que tangencia a perversão por vontade própria, ainda não cheguei à conclusão nenhuma. Pelo amor de Deus, quando falo de perversão, não falo preconceituosamente, mas no sentido psicanalítico da palavra. Para Freud a perversão era uma estrutura de personalidade, e o ato sexual perverso seria qualquer um desviado do ato sexual normal – que, no meu conceito, envolve apenas duas pessoas, porque senão, ou sobra, ou falta alguma coisa!!

Penso que a sociedade está prestes a acabar. Freud fala que não há civilização sem repressão, porque para se viver em sociedade torna-se necessário reprimir alguns impulsos. Imaginem a situação: se a coisa começar a ser assim, daqui a pouco as pessoas vão se conhecer e se identificar pelas pessoas com as quais transaram em comum! Talvez até passe a fazer parte do curriculum! Na carteira de identidade, além da observação “Doador de Órgãos e Tecidos”, vai constar: “Participante Ativo de Orgias”! Talvez até se passe a declarar gastos com Motel e derivados no Imposto de Renda, para ser ressarcido depois!

- Oi, é você a Maria que transou com o Paulo e o João?
- Sou, e você, quem é?
- Laurinha, do Pedro, do Gustavo...
- Do Fábio, da Ritinha...
- A Ritinha? Você conhece a Ritinha?
- Ih, transo com ela desde os catorze anos! Mas calma, agente nunca se tocou...

Eu sempre tive uma visão realista e não romanceada do sexo. Sexo é bom, ninguém questiona. Tem gente que até fala que sexo é que nem pizza, mesmo ruim é sempre bom. Mas o sexo não é uma coisa para ser feita entre duas pessoas? Ou minha lógica está errada? Afinal, entre outras modalidades possíveis de serem praticadas em uma relação, sexo implica em dois – eu disse dois – órgãos sexuais. Dois em um, uma fusão. Ninguém deve se esquecer de que por mais que se tenha prazer no sexo, ele tem uma função, que é a reprodutiva. Em que se unem um óvulo e um espermatozóide. Claro, existem os casos dos gêmeos, mas inicialmente é mais ou menos assim que a coisa funciona; um e um. Dois.

E de repente, o que é para ser vivido a dois, vira um três, quatro, cinco, talvez um bacanal com seis. Por mais moderninha que eu seja, não consigo entender o funcionamento por trás do comportamento. Mas a minha mente de psicóloga não deixa nada passar desapercebido, e eu consegui encontrar uma coisa em comum em todas as histórias. Um padrão! E se você foi observador também deve ter conseguido.

Todos os envolvidos eram amigos. Não me sinto tentada a parar para pensar que todos eram meus amigos – será que todos os meus amigos estão transando entre si e nunca me convidaram?! Mas em todos os casos não era o sexo o pano de fundo do encontro. Era a amizade. E amigos de longa data, não falo de uma amizade de meses. Melhores amigos. Parece que por mais moderninhos que sejam, e atuais e descolados, tinham um medo tão grande, mas tão grande da nova experiência que ela só poderia ser dividida com alguém que se conhece, alguém em quem se confia.

Não posso deixar de pensar na complicação que isso pode trazer. Se transar com um amigo já é complicado – a amizade muda, alguma coisa fica estranha – imagina se você começa a transar com todos os seus amigos. Você liga para uma amiga pra combinar uma balada e ela fala que não pode, porque já combinou de transar essa noite com outras pessoas. E se vira moda, até você, daqui à pouco, vai estar transando com os seus amigos – se é que já não está! – por pura falta de companhia para sair nos finais de semana.

Os dias atuais são marcados pela costumez, pela independência, pelo liberalismo. Tudo pode, tudo é lindo, tudo é atual. Nossas crianças experimentam um nível de liberdade que eu jamais sonhei em ter quando era mais nova. Vemos meninas de onze, doze anos perdendo a virgindade. Eu, com essa idade, brincava de Barbie. Tá certo, a brincadeira sempre acabava com a Barbie transando com um dos meus Ursinhos Carinhoso; mas não era eu transando com o menininho do meu prédio, filho do síndico, por quem eu era apaixonada! Entre uma situação e outra existe uma coisa muito importante, a repressão de um impulso que não podia vir à tona, e que era então sublimado nas minhas brincadeiras. Era, no passado.

Hoje vivemos tempos de eu-sou-de-todo-mundo-e-todo-mundo-é-meu-também. É enorme a quantidade de reportagens em revistas sobre sexo grupal, casas de swing e trocas de casais. Quem faz é moderno. Quem não faz, é careta; por mais estranho que pareça, o que era o normal ontem, é o anormal de hoje. Estou vendo a hora em que terei vergonha de contar para as pessoas que eu nunca transei com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Talvez comece a mentir que fiz também. Só para ser pop, para estar na moda e ser cool. Confesso até que estou me sentindo rejeitada por nunca alguém ter me convidado para um programinha desses...

Não sei, gente, mas se a moda pega...
Março de 2005

3 comentários:

Unknown disse...

Vc não está ultrapassada ou é careta por não fazer o que a maioria faz...
Não deve ir pelos outros, tem que ter personalidade e fazer o que gosta ou acha certo.
Não seja Maria vai com as outras...

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado

Livre Pensar disse...

Sexo a tres ou mais é simplesmente maravilhoso! Só de ouvir alguem gemendo ao seu lado já fica super excitante. Mas o lance é encarar tudo com leveza, se divertir e parar de sentir culpa...sexo é uma terapia incrível e se dá prazer é porque é pra ser sentido!