sexta-feira, 4 de abril de 2008

Fuja do Telefone

(ou, O Indecifrável Porquê Dos Homens Dizerem Que Vão Ligar E Nós Acreditamos)
Toda vez é sempre a mesma coisa. Você conhece um carinha legal, bonitinho, com um papo bacana... Às vezes o recém conhecido te beija às vezes não. Mas invariavelmente, se ele te achou legal, bonitinha e com um papo bacana, faz a promessa: amanhã te ligo. E invariavelmente você acredita.

Creia, irmã, você não é a única a acreditar nesta balela. Claro, não é regra você ficar o dia inteiro esperando a maldita invenção de Grahan Bell tocar, sentindo frios na espinha quando toca, e querendo se jogar da janela do seu prédio – ou do viaduto do chá, se você não mora em apartamento – quando vê que não era ele. Mas é inacreditável o número de vezes em que ligo para minhas amigas, elas atendem com uma vozinha doce do outro lado da linha e mudam o tom de voz ao ver que era só eu.

Porque falam que vão ligar se não ligam? Porque não falam apenas um “agente se fala”, “te ligo dia desses”, “vou te ligar”? Porque acrescentar o adjunto adverbial temporal “amanhã”? Afinal, esperar o cara te ligar um dia é bem diferente do que esperar o cara te ligar tal dia. Se ele ficou de te ligar provavelmente você nem vai acreditar, vai reclamar que ele foi vago e que o encontro foi de uma noite e nada mais. E no dia em que ele ligar – se ligar, é claro – você vai ficar toda contente por ele ter se lembrado de você e ter perdido momentos preciosos da vida te telefonando. Vai até dizer, contente, para as amigas, “meu, você não sabe quem me ligou”, com aquele ar de quem recebeu uma dádiva divina.

Mas se ele fala em amanhã, está te localizando no tempo e no espaço, garantindo alguma coisa, dando uma continuidade para uma noite que certamente não vai cair no esquecimento. E você vai dormir com aquela sensação de ter vivenciado um momento de encontro. E você vai acordar sentindo um frio no estômago, uma ansiedade que você não consegue explicar o porque até se lembrar da promessa feita no dia anterior. Vai passar o dia contente, esperando chegar o finalzinho de tarde, hora em que os telefonemas se dão. Vai verificar o celular o tempo todo, procurando alguma ligação perdida. Mas quando a novela das oito acaba, você vê que já está ficando tarde e ele não ligou... Aí começa o tormento. “Desgraçado, filho da mãe, cretino!”, é tudo o que você consegue pensar. E então se inicia uma série de telefonemas desesperados para suas amigas, nos quais você se pergunta o porque de tanta safadeza, começa a se questionar o que pode ter feito de errado para o crápula acordar no dia seguinte, coçar a cabeça e chegar à conclusão: “não... acho que não vou ligar”, e se esquecer de você por completo.

Conversando com uma amiga sobre isso outro dia e ela me deu a solução: é justamente isso que o canalha quer. Te deixar apreensiva e pensando nele o dia seguinte inteiro. Ser lembrado a cada toque do seu telefone, ser comentado por você com as suas amigas. Para quê falar que te liga qualquer dia, e deixar você tranqüila, se ele pode dar uma de gostoso e fazer seu pensamento se fixar nele no dia seguinte inteiro? Ele quer é te prender a ele, te fazer esperar, esperar, esperar...

Uni-vos mulheres que esperam um telefonema! Saiam dessa e invertam o jogo:

* Se ele disser que liga no dia seguinte, diga que amanhã você estará muito ocupada e, caso você não atenda o telefone, que ele não pense que você não quer atender, e sim que está mais atarefada fazendo outra coisa. Isso vai fazer ele te ligar, afinal, quem não quer saber se é mais importante do que os compromissos do dia a dia?

* Se ele te ligar, não atenda. Ele vai se sentir preterido, e um homem preterido é tudo o que uma mulher precisa!! Todo mundo merece se sentir a última bolacha do pacote, e ainda por cima recheada e de chocolate!!


* Se achar que não vai agüentar ouvir o telefone tocando e não atender, jogue o mesmo jogo dele. Fale que seu celular está com problema, e que por isso você prefere pegar o telefone dele. E lembre-se: diga que vai ligar no dia seguinte!!! Pois aí, quem vai ficar esperando o telefone tocar será ele, enquanto você, fêmea poderosa, coça a cabeça ao acordar e decide se vai ligar ou não...
Março de 2005

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