sexta-feira, 4 de abril de 2008

Perguntas sem Respostas

Então a coisa acontece da seguinte forma. Você está saindo com um cara legal, que te liga sempre, que gosta de coisas das quais você também gosta, que tem uns amigos legais, com os quais você se dá bem, que tem projetos de vida mais ou menos parecidos com os seus e com o qual você se deu bem na cama. Nos últimos tempos ele até anda te chamando de “meu amor”; em suma, um cara que parece gostar de você, que parece se importar com os seus sentimentos e que parece contar com disponibilidade interna para se envolver e, de fato, construir um relacionamento.

E de repente, não mais do que de repente, ele desaparece. Fala que vai ligar e não liga. Você, obviamente, fica esperando o telefone tocar com o coração na mão, mas ele não toca. Quando chega em casa ouve ansiosa os recados da secretária eletrônica, mas nenhum é dele. Até se envergonha da esperança que tem de ele aparecer de repente na sua casa, ou de passar pela portaria e ser surpreendida pelo porteiro com um arranjo de flores deixado por ele. Mas nada disso acontece. E então, se tiver um único traço de insegurança apenas – e quem não tem? – começa a se perguntar: “O que eu fiz de errado? Onde foi que eu errei?”.

Começa então a relembrar cada detalhe do último encontro, as coisas que você disse, as brincadeiras que fez, as frases soltas e aparentemente sem significado que disse ao pretendente. Mas nada disso responde às suas perguntas. Começa a se lembrar de cada frase que ele disse, alguma pista que possa explicar o motivo de ele ter desaparecido. No auge do desespero, talvez ligue surtada para uma amiga e transfira para ela a responsabilidade de esclarecer o mistério. Talvez até peça para ela ligar no celular dele, um número que apareça na bina dele e que ele não conheça, só para ver se ele está vivo e não te ligou por ter sofrido um acidente grave, talvez até tenha morrido. E se ela ligar, e ele não tiver morrido, nem sofrido nenhum acidente que o tenha paralisado do pescoço para baixo – afinal, a única desculpa aceitável para ele não ter colocado os dedinhos para funcionar e ter discado o seu número – aí sim é que as dúvidas a atormentarão durante muito tempo.

A menos que você passe por cima de seu orgulho, de seu ego ferido, e ligue para o desgraçado e pergunte o porque de ele ter desaparecido, a pergunta continuará sem resposta. Mas não vai deixar de existir. Dia após dia você vai se lembrar de como acreditou que desta vez seria diferente, de que você prometeu a si mesma que desta vez faria tudo certinho, que não se atropelaria e que não colocaria o carro na frente dos bois. Que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para jogar o jogo corretamente e ganhar o cara.

Conforme-se com a dura realidade: nem sempre você pode tudo. Na verdade, tanto as promessas de que desta vez seria diferente e que faria tudo certo, quanto o inconformismo diante do fato de não saber o que aconteceu para o homem dos seus sonhos sumir são diferentes manifestações de mesmo conteúdo: a ilusão de que podemos controlar as situações, de que tudo está à nosso alcance, de que, se nos concentrarmos e nos esforçarmos e nos dedicarmos conseguiremos tudo, fazer quem bem entendemos se apaixonar por nós.

Mas as coisas não são assim. Aceitar as próprias limitações, que nem sempre as coisas saem do jeito que queremos, que não é só porque decidimos que desta vez vai ser diferente que de fato assim o será é um indício importante e significativo de maturidade. Talvez você não tenha feito nada de errado, talvez o cara tenha sumido por motivos que dizem respeito apenas a ele próprio, e não à você – e quem disse que você é o centro do universo?

Continuar com esses questionamentos – o que fiz de errado, porque será que ele sumiu, porque será que minha melhor amiga me traiu, porque será que não consegui tal vaga de emprego? – só serve para que você se magoe ainda mais, só serve para cronificar uma dor que pode ser aguda e passar logo, se você for capaz de perceber que nem sempre você tem o controle de tudo nas suas mãos. Às vezes as pessoas somem porque somem, traem porque traem, não te dão o emprego porque não dão, e talvez nada disso tenha a ver com uma atitude sua.

Algumas perguntas sempre vão ficar sem resposta, e às vezes é melhor que assim fiquem. Aceitar que nem sempre temos respostas para tudo é imprescindível para crescer mos e nos tornarmos pessoas melhores. Porque os Flintstones comemoram o Natal se existiram em uma época anterior à Jesus Cristo? Porque o Cebolinha e o Cascão chamam a Mônica de baixinha se têm a mesma altura que ela? Porque o filme Missão Impossível tem esse nome, se até hoje – e nas duas seqüências – teve um final feliz?

Responda a essas se for capaz.
Março de 2005

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