sexta-feira, 4 de abril de 2008

Limpando o Caixa

Na grande maioria das vezes, após o término de um relacionamento, muitas pessoas ficam com a cada vez mais conhecida síndrome pós-trauma amoroso, que em leigos termos significa pavor a qualquer relacionamento mais duradouro. O problema é que justamente quando estamos em tal momento de vida, funcionamos como ímans para aqueles que estão no momento oposto, querendo se relacionar de forma séria e adulta com outra pessoa.

O que fazer? Ao término de um longo relacionamento, o mais comum é que as mazelas sofridas durante o envolvimento estejam absolutamente vívidas em nossa memória. Quantas vezes não nos pegamos falando do ex como namorado, ao invés de ex-namorado? Quantas vezes ainda nos sentimos imersos no turbilhão de sentimentos que acabou por culminar no término do relacionamento?

E é aí justamente que aparece aquele cara aparentemente perfeito, que nos trata como princesas, que fala aquilo que justamente gostaríamos de ouvir, que se preocupa com o fato de termos, ou não, tido um bom dia. E então surgem as dúvidas: será que já estou no momento de me envolver novamente com alguém? Será que já superei a fase das comparações – na qual ao primeiro indício de similaridade entre o pretendente e o ex queremos nos mudar de bairro, cidade, país?

Um amigo meu me disse a coisa mais sábia sobre relacionamentos – e ex-relacionamentos – que já ouvi na vida. Muito perspicazmente, me disse que ao terminar um relacionamento devemos sempre fechar o livro da história vivida. Usar as experiências aprendidas, sim, mas não fazer dos erros cometidos no passado – nossos, e da ex-pessoa – fatores que venham a interferir em relacionamentos futuros.

Temos a tendência de reatualizar sempre as mesmas questões em relacionamentos distintos. Porque, na verdade, estas questões dizem algo de nós mesmos na interação com uma outra pessoa, e não da própria pessoa em si. Isso significa que não é só porque o seu ex não era companheiro, não te passava segurança, que você tem que namorar com o primeiro que demonstre um pingo dessas características. Questione a sua capacidade de ser companheira de si mesma. Você não deve achar que só porque o pretendente atual e o ex são do mesmo signo que possuem a mesma personalidade. Questione com o que você se sente mais tentada a conviver. Ou então, que não é só porque a historinha atual apresenta uma série de estranhas coincidências – tipo você pensar no cara com quem saiu alguns meses atrás e de repente encontrá-lo numa balada nada a ver – que ele seja o homem da sua vida. Questione se, na verdade, você não acreditou na historinha do príncipe encantado no cavalo branco, esperando encontrá-lo um dia na vida real. Pois não existem príncipes encantados.

Quando saímos de um longo relacionamento, temos a tendência de não nos permitirmos conhecer de fato a outra pessoa. Não é porque o cara não tem os mesmos defeitos que o anterior que já vale à pena investir suas preciosas energias nele; não é só porque tem um defeito que você nunca conceberia no seu homem ideal que não serve para você. A liberdade pode ser maravilhosamente fascinante num primeiro momento, mas se não tiver definitivamente fechado o livro anterior e aberto um novinho para ser preenchido a partir de agora, provavelmente vai acabar caindo em uma armadilha armada por você mesma.

Pois se não aguardamos o tempo preciso para limpar o caixa, para superar de fato a frustração do relacionamento anterior não ter dado certo, corremos um sério risco de nos apegarmos a pessoas idealizadas, as quais nem conhecemos tão bem para considerarmos tão perfeitas. Uma série de expectativas que foram abandonadas em relação ao ex serão reativadas. Ou talvez comecemos a exigir que o atual se comporte como o ex nas situações nas quais gostávamos da forma-conduta do anterior.

Não devemos fazer do atual um tapa-buraco da relação anterior. Querendo ou não, há pouco tempo sozinha você ainda carrega consigo bagagens desta relação. Que podem contaminar a relação atual – se bobear, logo no início – com expectativas indevidas, idéias infundadas e cobranças descabidas. Devemos ser cautelosos sim, mas sempre dispostos e receptivos a, de fato, conhecer a outra pessoa. Suas qualidades, seus defeitos, sua riqueza e sua fraqueza. E isso ocorre lentamente, com o passar do tempo. Pois somente assim poderemos checar se aquilo que temos em mente sobre ela confere ou não com a realidade.

Ninguém sabe se há um final feliz para todos nesta vida; mas se ao final de tudo você for capaz de olhar-se no espelho e enxergar apenas a sua imagem refletida, já está bom demais.
Novembro de 2005

Um comentário:

Anônimo disse...

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