sexta-feira, 4 de abril de 2008

Quem vê beijo vê algo mais?

Eu conheço um cara muito legal. Divertido, dono de um ótimo senso de humor, generoso, inteligente, uma pessoa realmente agradabilíssima. Já tinha saído com algumas amigas minhas e agora, aparentemente, era a minha vez. Sempre que nos encontrávamos ele se mostrava interessadíssimo no que eu falava. Me mandava mensagens de texto, perguntando como havia sido meu dia. Até que, um dia, em uma festa, nos beijamos. Eu estava excitadíssima naqueles segundos que precederam o beijo. Um cara aparentemente legal, interessante, cheiroso e gostoso... Se aproximando, se aproximando...

Foi com imenso pesar que constatei que ele beijava incrivelmente mal. A língua, dura e áspera, fazia movimentos de zigue-zague dentro da minha boca, entrava e saía... Como aqueles filmes antigos projetados quase que cena a cena, “pá-pá-pá”, sem uma continuidade, aquele “ueón-uéon-uéon”. Enfim: se eu fosse um homem e tivesse um pinto, ele teria amolecido naquele exato momento.

Lembrei-me imediatamente de outras situações em que tive a mesma – ingrata – surpresa. Algumas vezes cheguei a insistir em outras tentativas, mas não conseguia “ensinar” como é que se deveria fazer. Todas as vezes, a história acabava do mesmo jeito: o beijo sempre se transformando em uma corrida de bate-bate. E se acaso a coisa chegasse a se desenvolver sob os lençóis, piorava: o bate-estaca era tamanho que eu gemia de desgosto, rezando para que aquele sofrimento acabasse logo.

Conversando com minhas amigas sobre esta questão, uma idéia me ocorreu. Seria o beijo algo aprendido? Seria possível que alguém “desaprendesse” a beijar mal e aprendesse a arte do “bem beijar”? Ou estariam, os movimentos necessários para um beijo escandalizante, submetidos à possibilidades musculares determinadas pela carga genética de cada um?

Lembro-me de uma aula que tive no cursinho, na qual fiquei sabendo que determinado movimento feito com a língua – algo como torcê-la dentro da boca e colocá-la em uma posição na diagonal – era uma coisa que somente algumas pessoas conseguiam fazer, já que esta possibilidade dependia da existência de determinado gene nos cromossomos da pessoa. Assim, talvez um beijo bom – determinado pelos movimentos sincronizados e sintônicos de lábios e língua – também poderia ser genético.

Não pude deixar de pensar como isso seria injusto! Maus beijadores nunca o deixariam de ser, mas existiria uma possibilidade que seus filhos fossem bons beijadores, caso esse gene fosse recessivo e o mau beijador tivesse filhos com uma pessoa que beijasse bem. Mas será que uma pessoa que beija bem se contentaria em casar e ter filhos com uma que beijasse mal? Até que ponto beijar bem ou mal é importante para o estabelecimento de uma relação entre duas pessoas? Eu nunca conseguiria namorar com uma pessoa com o tipo de beijo que descrevi no início. Alguém conseguiria? Mais do que isso: será que o tipo de beijo não é uma forma de seleção natural? Se o beijo diz algo referente à carga genética de cada um, beijar bem ou mal poderia dizer muito sobre a compatibilidade entre duas pessoas – e compatibilidade genética, atentem!

Meu pai é um grande fã da psicologia evolutiva. Nesta área da psicologia, conceitos pregam que existem determinados comportamentos que decorrem de necessidades inerentes aos mecanismos de evolução e preservação da espécie humana sobre a Terra. Como se, passados milhares e milhares de anos, nossos cérebros e mecanismos “instintuais” continuassem funcionando como se ainda fôssemos homens das cavernas. Outro dia ele me mandou um artigo muito interessante, falando as razões pelas quais escolhemos homens de determinados tipos físicos. As escolhas sempre recaem em mecanismos inconscientes que visam a existência humana sobre a Terra: homens mais altos do que as mulheres são escolhidos por elas pois poderiam protegê-las, e à cria, melhor... E a paixão dos homens por mulheres “popozudas” seria justificada pelo simples fato de que mulheres de ancas largas seriam melhores parideiras. Seria o beijo algo denunciador de algum tipo de compatibilidade extremamente importante para a manutenção da vida humana sobre a Terra?

Talvez algum dia eu escreva uma tese de doutorado relatando minhas investigações sobre o assunto. Por ora, fica a convicção de que, se o beijo nada disser sobre a carga genética de cada um, certamente o faz sobre a personalidade dos beijadores. Em mais de uma ocasião já notei que pessoas que beijam mal são mais travadas e passivas diante da vida, enquanto as que beijam bem são mais desenvoltas e seguras de si. E viva o “uéon-uéon-uéon”!!!
Abril de 2005

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